resenha do filme Lula, O Filho do Brasil

biografia beatífica do presidente

Eu não procurava uma análise de cada fraqueza no caráter de Lula; não esperava aprender de algum lada obscuro e perturbador do presidente.  Mas admito que sim gostaria de ter visto algum sinal de que o homen fosse humano além de suas lágrimas com a morte de sua primeira esposa e a de sua mãe.  Neste filme, observamos um Lula que não cometeu nenhum erro, que só antingiu grandes coisas apesar de uma infância de carência, com um pai alcoólico.  Não discuto que ele sim tem atingido grandes coisas, mas talvez foi humano também em algum momento do processo. 

Essa falta de fraqueza faz que o filme ande com o peso profundo de sua propria virtude.  Também sofre do mesmo problema que sofrem muitos filmes biográficos:  Sacrificam uma narrativa suave porque precisam saltar de evento importante a evento importante.  Ainda gostei mais ou menos; sabia pouco da vida de Lula e gostei de aprender alguns detalhes.  Só que em varios momentos, teria gostado de aprendê-las um pouco mais rápidamente.

Com toda essa gravidade, quando vi a Gloria Pires representando a mãe de Lula, admito ter mantido no meu coração a esperança secreta que ela e o futuro presidente iam trocar de corpos em algúm momento do filme para fazer-me rir um pouco mais.*  Teria sido um pouco destoante, mas acho de uma forma boa.  Não quero revelar a conclusão do filme, mas não aconteceu.  Uma pena.

Nota sobre o conteúdo:  Este filme não tem nada de ofensivo menos – tal vez – a hagiografia.

* Assim como ela fez nos filmes Se Eu Fosse Você 1 e 2.

resenha do filme Vidas Secas (1963)

lenta, seria vista (mas com esperança) da vida dos pobres no nordeste do Brasil

O filme começa e termina com quase a mesma cena: um homem, uma mulher, seus dois meninos, andando a pe. No tempo entre o começo e ao final, as vezes a vida melhora (o homem acha um trabalho de vaqueiro) e piora (o homem vai para a carcere por causa de um policial corrupto), mas a fundação, o permanente na vida da família, é o andar, o procurar alguma coisa, tomara que seja uma coisa melhor mas pelo menos algumas coisa. E se a melhorias não permanecem, pelo menos também não permanecem os azares da vida, porque a familia está determinada a sobreviver, seja qual seja o custo. O filme bem apresenta a perspectiva de todos na familia: a desesperação do homem quando a policia e os políticos se aproveitam dele, a desesperação quieta da mulher enquanto tenta manter a família comendo, o aborrecimento das crianças. Este último se reflete no fato de que se fala pouco no filme: de que há de falar?

Na última parte deste filme, uma das crianças pergunta para sua mãe: Como é o inferno? É um lugar para onde vão os condenados, cheio de fogueira, espeto quente. Uns momentos depois, o menino olha para o mundo em volta dele e observa: Inferno. Logo sua mãe sai a recolher agua de uma poça patética. Inferno.

Mas apesar de tudo, a familía acha esperança. Depois de tudo, há uma grande diferença entre a cena inicial e a final. Ao final, depois de achar e deixar um trabalho, de receber abuso da polícia, a mulher e seu homen andam falando do futuro, da possibilidade de – algum dia – de dormir numa cama de couro. De – como disse a mulher – ser gente.

Nota de conteúdo: Este filme se pode assistar por qualquer idade. Agora bem, provavelmente as crianças (e alguns dos adultos) vão dormir pela lentidão do filme, mas pelo menos não vão se ofender.